Regeneração

Regeneração

ÁGUA– Os ciclos e o equilíbrio dinâmico
BIOMAS Pegada ecológica e capacidade de carga
ENERGIA Necessidades básicas
TECNOLOGIA O crescimento e os limites.
GOVERNANÇA Eu e a comunidade
CULTURA Patrimônios da humanidade e da natureza
SABEDORIA Conselhos técnicos e Saber fazer
COMPLEXIDADE– Valores socioambientais
HARMONIA Criatividade e Beleza

Nos apartados de Arquitetura e Urbanismo apresentamos os trabalhos realizados, bem como os conceitos teóricos e práticos diretamente relacionados com estas disciplinas, a arquitetura e o planeamento urbano e territorial.
Nesta secção, porém, sobre Desenvolvimento e Regeneração, os exemplos do trabalho que realizamos e que vos apresentamos são simples, até básicos, mas os conceitos que apresentamos nesta página são muito mais amplos, complexos e ideológicos, por isso é aqui que você verá o caráter e os valores profundos do nosso trabalho.


ÁGUA

A gestão biológica da água faz parte da compreensão do mundo, do universo, da química mais elementar, dos ciclos dos elementos. É por isso que desenvolvemos, projetamos e construímos sistemas de captação, purificação, revitalização, uso consciente e bio-purificação de águas pluviais.

OS CICLOS E O EQUILÍBRIO DINÂMICO

As culturas orientais têm um conceito do desenvolvimento muito diferente das culturas ocidentais, assim como as culturas “antárticas” diferem das tropicais. O universo não está parado, está evoluindo, seguindo leis absolutamente rígidas para criar um caos inimaginável. Como diz o Tao, – A água é o líquido da vida, o líquido mais valioso do universo e busca sempre os lugares mais baixos -.
Os humanos, com as suas leis baseadas no poder, valores sociais e crenças religiosas arcaicas, querem progredir, tirando partido das mesmas leis naturais em seu próprio benefício. Isto levou-nos a grandes erros nas desigualdades sociais, econômicas, de gênero e até mesmo raciais. Mas a história não perdoa e os equilíbrios são reconstruídos dia após dia… enquanto novos desequilíbrios são gerados noutros lugares. O conceito de equilíbrio dinâmico baseia-se na ideia de que estes desequilíbrios que surgem repetidamente, devido à inconsciência ou ignorância humana, podem ser reequilibrados de forma simples, sem ter que parar ou “reiniciar” o planeta na evolução, mas compreendendo os ciclos naturais, sobretudo o ciclo da água limpa.

BIOMAS

O conceito de Regeneração vai alguns passos além do conceito de sustentabilidade. Trata-se de gerar espaços vivos, pequenos e grandes ecossistemas, plantar hortas, jardins e florestas inteiras, promovendo a vitalidade e a fertilidade da terra. Já temos plantado hortas nas escolas, para que possamos sentir de onde vem a nossa alimentação, e temos elaborado estudos de impacto mostrando como é importante tratar bem o solo, a água e a luz, e fechar o ciclo biológico com a compostagem por exemplo. Nas cidades são necessários hortas, jardins e paisagens com campos inteiros, porque sem eles não existiriam, são necessárias florestas, rios e montanhas para limpar o ar, a água e os nutrientes naturais.


PEGADA ECOLÓGICA E CAPACIDADE DE CARGA

Nosso planeta tem limites materiais. As quantidades de ferro, oxigênio, carbono e todos os elementos da tabela periódica estão em certa quantidade. Muitos ainda pensam que estão disponíveis apenas para a raça humana. Mas não, eles precisam ser partilhados com outros seres vivos porque é no todo biótico e abiótico que a vida prospera.
Chamamos à quantidade de recursos que a humanidade utiliza de “Pegada Ecológica”, e ter consciência disso faz parte de determinar a nossa responsabilidade, para cada um de nós, para as nossas famílias, para as diferentes cidades, e para as diferentes culturas, que assumem diferentes padrões de consumo e de respeito pelos recursos naturais. Por outro lado, sabemos que diferentes territórios possuem diferentes capacidades de gerar e manter sua fertilidade, dependendo da radiação solar, do regime de chuvas, dos ventos e da massa biótica da região, chamamos esse conceito de “Capacidade de Carga” do território, e devemos pensar sempre em ajudá-la, para que seja mais forte e resiliente. Esta é a função dos jardins e hortas urbanas, dar um impulso à fertilidade, e poder fazer com que os frutos maduros voltem a germinar na terra.


ENERGIA

A ciência e a tecnologia descobrem diversas fontes de energia e sistemas que geram grandes intensidades de energia, observando minimizar o uso do restante dos recursos naturais.
O bioclimatismo, por exemplo, simplesmente aproveita passivamente o clima e as constantes térmicas dos materiais. A gravidade que faz chover e faz correr os rios. A mudança de estado: do sólido ao líquido e ao gás simplesmente pelo calor ou pela pressão, sem esquecer, é claro, a radiação direta, que seca a roupa, cozinha, ilumina, e nos injeta vitamina D…

Existem vários sistemas os quais a natureza pode nos fornecer energia limpa, solar térmica, fotovoltaica, hidrelétrica e outras tecnologias inovadoras que já aplicamos em pequena escala.

NECESSIDADES BÁSICAS

Juntamente com a água e os alimentos, a energia também é uma das necessidades básicas. Quando falamos da pegada ecológica, dos ciclos bioquímicos, estamos a falar da matéria, e esta é limitada, ficando no nosso planeta. Mas existem outros conceitos que não são tão limitados, como o da energia, que provém principalmente da nossa querida estrela: o Sol, embora também a recebamos das profundezas do nosso planeta.
Incompreensivelmente, os governos formam uma rede de leis, regras, impostos e dependências econômicas surreais, apoiados por formadores de opinião nos meios de comunicação de massa, para controlar essa energia que nos chega vinda do sol, inicialmente para custear os equipamentos de geração e distribuição universal das energias. Mas atualmente temos geradores unifamiliares e individuais que podem resolver esse problema para nós.
Ter as necessidades básicas atendidas nos proporcionaria liberdade para o desenvolvimento individual e coletivo.
É uma forma de crescimento em espiral, onde a democratização das necessidades básicas permite a liberdade de criação e de crescimento pessoal e, por sua vez, proporciona melhores condições para que todos possam usar esta liberdade para o bem comum.
Mas por mais incrível que possa parecer, o paradigma de desenvolvimento comunista-capitalista de crescimento ilimitado não nos permite agir sobre esta possibilidade, retroalimentando-nos. Ou porque apenas aspira a cobrir necessidades individuais básicas sacrificando a capacidade criativa do ser humano, ou se designa como portador da liberdade criativa sem devolver os benefícios dessa mesma liberdade à comunidade, ficando preso na sua hipocrisia
Hoje temos ferramentas digitais e de empoderamento de grupo que nos permitem superar esses velhos paradigmas.


TECNOLOGIA

Diferentes comunidades e diferentes ecossistemas criam diferentes complexidades, e cada uma tem soluções de desenvolvimento que se adaptam aos seus recursos, valores e capacidades. O conceito do termo “Tecnologia Apropriada”, refere-se às tecnologias que cada cultura e cada comunidade são capazes de assumir para aproveitar corretamente, sem gerar diferenças sociais irreversíveis, capazes de assumir a sua manutenção, bem como a responsabilidade da sua utilização, incluindo possíveis riscos ou contaminações.
Uma das tecnologias apropriadas mais extensas em todo o planeta, para quase todas as culturas, desde tempos imemoriais é a construção com terra, com todas as suas dezenas de versões adaptadas a cada clima, substrato natural e capacidade mecânica: Adob, Tàpia, Terra-palha, molduras como o “quinxa” ou o “pau-a-pique”, blocos comprimidos estabilizados, etc… que estamos recuperando com o conhecimento técnico-científico que temos atualmente do comportamento da matéria-energia.

O CRESCIMENTO E OS LIMITES

Em 1972 o livro “Os limites do crescimento” foi publicado. Trata-se do estudo realizado por um grupo de cientistas liderado por Donella e Dennis Meadows. E em 1979 foi publicada a hipótese Gaia de James Lovelock e Lynn Margulis, que expõe a teoria de que o planeta como um todo é capaz de autorregular as suas constantes de temperatura ou a salinidade dos oceanos, entre outras.
Finalmente, hoje, a definição de desenvolvimento corre paralelamente aos limites da pegada ecológica e da capacidade de suporte de cada região, o desenvolvimento não será mais este desenvolvimento sem o limite do paradigma capitalista/comunista.
Não podemos permitir que este ritmo de consumo das sociedades modernas esteja ligado às novas tecnologias, desacreditando as velhas tecnologias. Toda tecnologia, desde a mais primitiva até a de última geração, como a inteligência artificial ou o conhecimento do DNA, deve ser utilizada conscientemente para a sustentabilidade de médio e longo prazo, para a regeneração, e não para o lucro imediato e a obsolescência programada, sem consciência nem valores socioambientais.


GOVERNANÇA

Para o desenvolvimento consciente das pessoas e das comunidades é necessário aceitar que a nossa sociedade, bem como a própria biosfera, são muito complexas. Devemos nos empoderar, e o ato de liderar só pode ser permitido vinculado à transparência aos planos e programas, no pensamento estratégico, com a participação social assumindo a responsabilidade por suas próprias decisões, onde a correlação entre o valor do dinheiro em relação ao esforço, ao conhecimento e à experiência, contribuem para a resolução efetiva dos problemas.
Neste campo estamos a implementar processos de empoderamento, políticas locais, integração entre desenvolvimento social, e ciclos naturais, e direitos e valores universais.

EU E A COMUNIDADE

Quando abrimos os olhos para todas as possibilidades da complexidade universal, surgem muitos mais cenários, exemplos incríveis de boas práticas, em culturas sutilmente diferentes à que nos rodeia. Na dialética entre mim e o resto do mundo, incluindo o nosso parceiro, a nossa família e amigos, os nossos outros compatriotas culturais, e tantos grupos de afinidade ou rivalidade, vemos como será difícil equiparar tudo num só planeta. Entre ser eu com todas as minhas potencialidades, e ser membro de uma comunidade maior, mesmo aquela que chamamos de humanidade, entre esses dois extremos existe um labirinto. É um labirinto individual feito de infinitas decisões diárias, onde muitas vezes cometemos erros, influenciados pelo ego, por crenças ancestrais e até religiosas. Erros por ignorância, falta de espírito crítico e falta de consciência do aqui e agora, o único tempo e espaço reais. Leituras e aulas de filosofia, psicologia ou misticismo nos oferecem muito material para refletir sobre essa evolução pessoal-coletiva.


CULTURA

Na Arquitetura Regenerativa contribuímos com o nosso conhecimento participando e organizando cursos, basicamente em três áreas: Arquitetura, Ordenamento do território e Desenvolvimento. Mas não são de forma alguma ensinamentos que dão continuidade à corrente principal destes assuntos. Nossa visão é baseada na Arquitetura Biomimética e na Bioconstrução, no Planejamento de Ecossistemas e no Desenvolvimento Regenerativo. E as metodologias utilizadas baseiam-se em boas práticas, exemplos de vida ou viagens de experiência, muito mais do que na repetição de modelos ou nas teorias dos chamados especialistas.

PATRIMÔNIOS DA HUMANIDADE E DA NATUREZA

A criação de uma cultura, todas e qualquer uma das diversas culturas ndo mundo, é construída para fortalecer e transmitir os melhores valores, os mais importantes, aqueles que garantem o respeito pelos outros e a liberdade individual. Cada cultura atribui níveis mais ou menos altos ou baixos aos seus princípios, mas estes também vão sendo revistos ao longo da história, consolidando a identidade de cada povo.
Fiquem atento a este momento interessante: estamos numa era da humanidade em que foi necessário recuperar a importância do resto dos seres vivos, dos ecossistemas, da água, do sol, do ar… A organização da cursos, viagens para conhecer outras culturas, outras biorregiões, que cresceram com outros valores, outras relações com a natureza e outras soluções técnicas, hoje é básico para cada um de nós. Depois de absorver tudo de importante que a bagagem familiar de nossos pais nos deixou, começamos a abrir a cabeça para novos conhecimentos, novas experiências, construindo a base explosiva da criatividade.


SABEDORIA

Todo mundo sabe que você pode provar que aprendeu alguma coisa quando consegue explicar isso para outra pessoa e que essa terceira pessoa também entenda. Esta transmissão de conhecimento faz com que a comunidade tenha esse conhecimento de forma natural e coletiva. Aqui está o ensino nas escolas. Uma vez alcançado um certo grau de conhecimento no nível profundo, complexo, inter-relacional, da vez que integrativo, a pessoa pode considerar-se um bom conselheiro. Como isso é avaliado? Essencialmente, é muito difícil porque o viés político prevalece atualmente nas grandes instituições tanto cívicas, como acadêmicas e empresariais.
No entanto, podemos afirmar que os técnicos da “Arquitetura Regenerativa” já fizeram parte de vários conselhos, e continuaremos a fazê-lo onde acreditamos seja importante contribuir com o nosso know-how.

CONSELHOS TÉCNICOS E SABER FAZER

Não é fácil falar sobre sabedoria. O que podemos chamar de sabedoria? Segundo o wikipedista, a sabedoria é um atributo do ser humano, que lhe permite tomar decisões justas e perfeitamente equilibradas, e colocar esse conhecimento em ação. Surpreendentemente a definição de saúde mental é a de uma pessoa capaz de traçar um plano de sua vida e executá-lo. São definições muito semelhantes.
Depois deste equilíbrio total e externo, depois de visitar todos os tipos de culturas espalhadas pelo planeta, depois de permanecer no melodrama dos campos morfo-genéticos, poderemos nos sentar e gerar imaginação suficiente para regenerar o mundo.
Neste momento nós, e a IA, somos capazes de pensar sistemas, estruturar empresas, desenhar programas… Inventar novas formas de viver, desta vez integradas com a natureza e cooperando com os nossos pares…


COMPLEXIDADE

Quando começamos a trabalhar duro para resolver tantos problemas gerados pelo crescimento inconsciente e ignorante, nos deparamos com a complexidade.
Os problemas não são isolados, estão interligados. É por isso que é necessário trabalhar sistematicamente. Compreenda o sistema e os subsistemas e as ligações fractais que tudo isso abrange. Nossos trabalhos, projetos, planos territoriais têm essa visão sistêmica, ainda que só temos conseguimos aplicá-la amplamente um par de vezes, na elaboração dos estudos para implantação de Sistemas de Gestão Ambiental em dois aeroportos.

VALORES TRANSCENDENTAIS E MEIO-AMBIENTAIS

A chave que torna realmente importantes todos esses conceitos aqui descritos é o fato de que as novas gerações fluam observando, refletindo, vivenciando, reconsiderando, assumindo… ao longo do tempo, cuidando dos sistemas e das pessoas para que não sejam degradados seus valores, que o os valores sejam mantidos, trata-se de manter no sistema o que é bom, positivo e melhorar em relação ao sistema anterior.
Chegar a esse marco geral sobre quais são os melhores valores, qual a hierarquia desses valores, é como articulam as diferentes culturas, embora seja muito complexo garantir que sejam respeitados, este é o grande trabalho. Não errar é muito difícil, por isso os sistemas permitem se reorganizar, sem se desvalorizar, para manter uma ética equilibrada que se assume coletiva e individualmente.


HARMONIA

A harmonia é uma experiência subjetiva, todos podem vivenciar a harmonia em contextos muito diferentes, em ambientes diferentes, em diferentes aspectos criativos, é difícil aceitar uma definição simples. E com tudo colocamos sempre o nosso sentimento de fazer o melhor que podemos para chegar mais perto da harmonia em cada projeto.
A harmonia está tanto na beleza das flores como numa sinfonia musical, como numa passagem fresca e luminosa. É uma certa combinação de formas e cores para cada situação, para cada ação, para cada hora do dia. É a vontade de querer fazer bem as coisas, quando ao fazê-las há amor suficiente no ambiente, há experiência suficiente em saber fazer, com delicadeza, há decisão suficiente para fazer o que precisa ser feito.

CRIATIVIDADE E BELEZA

Como seria um desenvolvimento harmonioso? Como seria a regeneração com grandes doses de criação harmônica?
O desenvolvimento já foi observado sob os mais diversos pontos de vista, social, ambiental, econômico e muitos outros… mas ainda sentimos falta de harmonia, de beleza.
Se vamos procurar as origens do desenvolvimento moderno: “a declaração dos direitos humanos”, os estudos das “Necessidades Humanas da pirâmide de Abraham Maslow”, a redefinição do “desenvolvimento sustentável”, no relatório Brundtland, com o tripé sociedade – meio ambiente – economia, há algumas décadas, a estrutura com os recentes ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU, ou o clássico IDH (índice de desenvolvimento humano) de Mahbub ul Haq, ou no âmbito do programa PNUD das Nações Unidas onde também foram realizados estudos e programas universais pensando na “Solução das desigualdades”. Em todos eles há algum tipo de esforço intelectual teimoso em querer que as pessoas façam o que aqueles que sabem ordenam. Atualmente, mesmo os “especialistas” não contarão mais para nada, visto que serão delegados a alguma “Inteligência Artificial (IA)” acreditando que ela pensa.
O conceito oficial de desenvolvimento não incluía o que acontecia com os recursos naturais do planeta, nem a expropriação implícita de toda a natureza, uma visão antropocêntrica e egoísta do desenvolvimento, dos humanos.
Outros cientistas, líderes espirituais ou simples amantes da natureza já indicaram quanto tendencioso era tudo ao não considerar os ciclos naturais dos ecossistemas. Bem, a IA. incluirá alguns aspectos ambientais simples, se conseguirmos alguém para treiná-la adequadamente.
E além? Qual é o próximo passo que devemos dar?
O velho conceito de Desenvolvimento deve ser desmantelado para se centrar num equilíbrio dinâmico entre o cultural e o natural. Um desenvolvimento integral, entre aquilo tecnológico, aquilo biológico e aquilo belo, entre o indivíduo, a comunidade e o sentimento universal do belo, do maravilhoso, do cheio de prazer, que nos faz sentir a música do universo.